O Sentido na Literatura

Por Que Decidi Criar um Blog?

Há muito tempo, queria escrever um blog e gerar uma renda extra, mas esbarrava na dificuldade paralisante de escolher um tema e acabava desistindo. Decidi, então, escrever sobre mim. Mas não apenas sobre minha vida cotidiana: refiro-me às minhas reflexões ao ler um livro, conhecer uma pessoa, enfrentar uma dificuldade – enfim, sobre minha experiência emocional e intelectual ao entrar em contato com o mundo e com o outro.

Para começar, quero tratar da minha experiência com os livros. Sim, eu amo os livros, e é uma lástima que meu vizinho não acomode no coração essa mesma estima. O brasileiro não lê, e isso é, além de preocupante, profundamente triste.

A Triste Realidade da Leitura no Brasil

Não quero discutir aqui “a razão” desse problema, mas prefiro focar em outro ponto: o livro não exerce o mesmo fascínio instantâneo que um reels do Instagram. Esses vídeos curtos, sequenciais, repetitivos e emocionais conseguem alternar estados de tristeza e alegria com uma rapidez que prende a atenção.

Infelizmente, um jovem dificilmente deixará de assistir ao TikTok para se aventurar em uma viagem a Jerusalém com Teodorico atrás de relíquias, ou para se horrorizar com o linchamento de um homem invisível. Ele não tem paciência – a literatura, para ele, seria algo enfadonho e chato. De verdade, a leitura, embora profunda e enriquecedora, não compete com a facilidade imediata das redes sociais. A velocidade e a emoção instantânea são elementos que prendem o jovem, tornando a literatura um desafio.

A Literatura Como Experiência e Sentimento

E a situação só piora quando ele se sente obrigado a fazê-lo para ser aprovado em algum exame. A literatura, ao meu ver – e aqui falo não como professor ou crítico, mas como um simples apreciador das belas letras – deve ser encarada como algo a ser sentido, e não apenas compreendido. Quando leio, não busco apenas entender o enredo ou memorizar as ideias do autor, mas me permito sentir o peso e a beleza das palavras. A função da linguagem literária é poética e expressiva: o leitor deve permitir-se sentir o texto, não apenas estudá-lo. E, se o estuda, que seja para senti-lo ainda mais profundamente. Só assim, a literatura se torna verdadeira.

A Quimera da Felicidade: Um Trecho para Sentir

Agora, caro leitor, confessarei um pecado: ainda hoje, não terminei de ler Memórias Póstumas de Brás Cubas; desse crime sou réu confesso. Entretanto, o trecho que segue é deste livro, e deixo esta passagem para ilustrar tudo o que disse até aqui. Seja sensível, leitor, a essas linhas sutis que revelam uma verdade fundamental. Não procure contar as figuras de linguagem, nem se lembre das características da escola literária, mas tão somente sinta e vivencie essas letras:

“Então o homem, flagelado e rebelde, corria diante da fatalidade das coisas, atrás de uma figura nebulosa e esquiva, feita de retalhos, um retalho de impalpável, outro de improvável, outro de invisível, cosidos todos a ponto precário, com a agulha da imaginação; e essa figura, – nada menos que a quimera da felicidade, – ou lhe fugia perpetuamente, ou deixava-se apanhar pela fralda, e o homem a cingia ao peito, e então ela ria, como um escárnio, e sumia-se, como uma ilusão.”

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